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Festa De Nossa Senhora Do Carmo Na Comunidade De Paço De Arcos

Atualizado: 20 de jul. de 2019


Foi em ambiente de grande júbilo que em Paço de Arcos se festejou a Solenidade de Nossa Senhora do Carmo, que também dá nome à comunidade que na Casa dos Padres Carmelitas se reúne.

Dois momentos fortes a assinalaram. O primeiro, e espiritualmente o mais denso, centrou-se na celebração da Eucaristia. Presidiu o Padre Armindo dos Santos Vaz, sempre disponível para estar com os seculares, que teve a seu lado, como concelebrante, o Padre Jorge Santos Vaz, seu irmão de sangue e também professo da Ordem.

Começou-se pela leitura da magnífica mensagem do Padre Pedro Lourenço Ferreira, nosso Provincial. A celebração foi decorrendo dentro do seu ritmo próprio até ao momento em que o Pedro Miguel de Melo Tavares se aproximou para renovar o seu compromisso (2.ª promessa) de carmelita secular. Todas as formalidades estatutárias foram cumpridas. E foi sobre o “Compromisso” que o Padre Armindo discorreu na homilia, com uma fundamentação bíblica cheia de novidade para os ouvidos leigos, que a seguiam muito atentos e agradados.

O segundo momento decorreu na sala de jantar, sentando-se à volta da sua mesa 16 irmãos, entre eles a Irmã Maria da Conceição, da Congregação das Irmãs Franciscanas de Calais, que também é irmã de sangue dos sacerdotes atrás mencionados. Foi uma grande festa de família, como Santa Teresa certamente apreciou. As Martas e as Marias encarregaram-se de a tudo providenciar. Depois foi o convívio fraterno em que se evocaram memórias, contaram novidades e deram notícias sobre os que não puderam estar, ou por as férias os ter levado para longe ou pela falta de saúde. E assim se fez a Festa da Rainha e Formusura do Carmelo, cujo hino também se cantou, e em latim!


Por Carlos Margaça Veiga


Homilia do P. Armindo Vaz, OCD

«Compromisso» na festa de Nª Sª do Carmo


Porque muitos de vocês fizeram as promessas de entrada para o Carmelo Secular na Solenidade de Nª Sª do Carmo, meditemos nelas, pois vos empenham a todos, como a nós, religiosos com votos.

Hoje em dia as pessoas têm dificuldade e até relutância em comprometer-se: a onda de contestação a ideias tradicionais põe a sociedade em movimento, à conquista de sempre novos valores. Mas essa onda de contestação também costuma ser pretexto para recusar valores que há 70 anos constituíam a base em que assentava a ‘palavra dada’, ponto de honra daqueles que por ela se comprometiam. Entre esses valores contavam-se: a família qual ninho acolhedor, protector e promotor dos que lá se reuniam, o exercício do amor humano nas formas mais variadas e elevadas, com igualdade de direitos e direito à diferença; contavam-se ainda os direitos das crianças, factor do crescimento e aperfeiçoamento da sociedade, o respeito pela vida humana, etc. Na brutal evolução de ideias neste domínio, grande parte das pessoas sofreu “o choque do futuro”, o choque sofrido por elas não aguentarem a mudança brusca nas formas de vida social, na sociedade informática que também está a mudar a forma de se compreenderem a si próprias. Ao perderem referências tradicionais de vida, ao não saberem gerir a mudança, ficam num estado de imponderabilidade, em suspenso, sem saberem bem a que ater-se e a que agarrar-se. Vivem – como diria o filósofo checo Milan Kundera – na «insustentável leveza do ser», que decorre de uma vida conduzida sob o tecto da liberdade descomprometida, a liberdade de ser sem pertencer. Enquanto o peso do ser se dá na liberdade comprometida com a vida por meio do amor às pessoas, proposto pelo evangelho, a «leveza do ser» segue a um não-compromisso com as situações humanas das pessoas (como fizeram o sacerdote e o levita na parábola do ‘bom samaritano’ – passam ao largo); a «leveza do ser» despe a vida de sentido, tornando-a tão leve que se esfuma e se esvai. O peso do compromisso é uma âncora que agarra a vida a uma forte razão de ser, como é a do amor. Porque amar significa renunciar à agressividade e a qualquer espécie de violência, o compromisso e as promessas no Carmelo são um "convite à vida", com as suas alegrias e mazelas. Mostra que vale a pena viver cada momento da vida.

Dentro desta atmosfera de grandes mudanças a nível social, pessoas comprometidas como as do Carmelo Secular pedem a sabedoria para articular o que pode mudar com o que deve permanecer. O compromisso que fizestes/renovais refresca a ‘palavra dada’ ao Deus da aliança em forma de promessa/compromisso... Mas o compromisso é mais: é um empenhamento diante de uma pequena comunidade eclesial, de como quereis viver em mais estreita amizade, de acordo com a espiritualidade de S. Teresa de Jesus e de S. João da Cruz na Ordem de Nª Sra. do Carmo. E contais com essa espiritualidade para serdes fiéis à aliança com Deus, mediada por Jesus Cristo.

Reparai que o compromisso é com Deus e com a comunidade de Nª Sra. do Carmo. Mas, a base de tal compromisso é a aliança de Deus connosco. Com o vosso compromisso vós respondeis ao compromisso/aliança de Deus: recebeis o amor de Deus e deixais-vos envolver por ele, acolhendo o projecto de Jesus, aquele em quem os compromissos de Deus para com a humanidade tiveram a sua realização: “Deus é testemunha de que a nossa palavra dirigida a vós não é um ambíguo ‘sim’ e ‘não’; pois o Filho de Deus, Jesus Cristo... não foi um ambíguo ‘sim’ e ‘não’ mas unicamente um ‘sim’. Nele todas as promessas de Deus se tornaram ‘sim’ e é por isso que, graças a Ele, nós podemos dizer o ‘amen’ para glória de Deus” (2Cor 1,18-20).

Uma visão profana da vida poderia brincar assim: ‘quiseram juntar-se, amanhem-se juntos!’ Mas a fé cristã e a espiritualidade da Ordem de Nª Srª do Carmo corrige: ‘o amor os juntou, o amor de Deus os quer juntos; não separem a rotina e o cansaço aqueles que Deus uniu’. A Ordem proporciona os meios para que cada um seja fermento de transformação do mundo em que vive: oração pessoal e em conjunto, participação na Eucaristia, meditação da Palavra de Deus e da palavra dos fundadores, diálogo mensal em constante revisão de vida ao espelho do evangelho.

O pior que poderíeis fazer neste momento seria analisar criticamente o discurso sobre o “compromisso”. Aliás, não há discurso sobre o ‘compromisso’, uma oratória moral que pretendesse arrancar o vosso sim por meio de retórica. O vosso ‘compromisso’ não tem propriamente carácter moral ou jurídico (mesmo que fique assinado um papel selado em que cada um se compromete a ter um determinado comportamento). É antes um selo espiritual, no amor gratuito. O fundamento do vosso compromisso não é uma moral, mas o amor de Deus para convosco na sua aliança, especialmente demonstrado por Jesus na cruz. Fazer e renovar o compromisso é sentir-se envolvido nesse acto de amor imolado, acolhê-lo e beneficiar dele. Isso não é um acto passivo. É fortemente activo. É o melhor que podeis fazer.

Para isso, contais com uma força poderosa, a protecção da Senhora que celebramos hoje, a Senhora do Carmo. Ela respondeu perfeitamente às promessas de Deus realizadas na pessoa do Filho: ofereceu o seu corpo –toda a sua vida – para que Deus viesse até nós no Filho. E ela própria foi fiel ao compromisso de que que «se fizesse nela segundo a Palavra de Deus’: “faça-se em mim segundo a vossa Palavra”. Ela é entre as criaturas o máximo modelo de fidelidade a Deus e da fidelidade da pessoa a si própria, continuando a dizer hoje aos que fizeram promessas: «fazei o que Ele vos disser».

Que o Deus das promessas e do compromisso de nos salvar esteja com os vossos sonhos e com as vossas realizações.

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